Aqui, em fundo preto, gostava de pintar um quadro numa tela branca.Por mais estranho que pareça, eu gostava de o pintar,mas sem saber o que pintar.Quero pintar numa tela, aquele dia.Mas, quando para mim, aquele dia se traduz até hoje, é difícil arranjar a tela desejada e adequada.
Pinto chuva, quando estava sol?
Páro antes de começar!Ñão me consigo concentrar com todo este fumo à minha volta, e com a dispersão de memórias que saltam no meu ser e na minha memória.É demasiado duro!
Teria de ser um quadro com vida própria.Um presente de aniversário, que fosse apreciado e agradecido.Ao pintar, tinha de representar as cores que nos enchiam naquele momento. Representaria o primeiro passo, que, estranhamente não fui eu que o dei.O primeiro beijo!Mas como?Com que cores?Com que formas?...
Tinha de expressar aqueles olhares nas horas vagas em que não podíamos estar juntos.Um cabelo molhado.Tudo o que naquele momento me fazia sentir feliz, preenchido com uma aragem fina, e com um sabor de novidade.Precisava de pintar um sentimento.O único!Que misturava novidade, com tudo o que é suposto isso trazer, mas que, ao mesmo tempo, ao olhar os teus olhos era transformado em embaraçoso e inexperiente.
Representaria as horas passadas, cheias de mensagens em papéis, como duas crianças que dão os primeiros passos na escola.Era necessário pintar um dia inteiro...
Os primeiros sorrisos, o primeiro brilho dos dentes, e o conforto estético do nariz!O toque a um cabelo novo e o entrelaçar de duas mãos, na altura desconhecidas, mas que a partir daí, estiveram sempre juntas, mesmo quando não se tocavam.
Não posso esquecer a primeira separação.O retornar à casa de cada um, liderados por uma esperança e duas ansiedades de acordar no dia 3, para ver e sentir outra vez o passado recente.Pintaria o deitar, na minha cama, que já foi tua também.O fechar dos olhos, e a tentativa de descansar um corpo e uma alma, inadaptados à realidade, mas...sorridentes e puros.
"Até amanhã!".
São guitarras chinesas, batidas violentas e vozes difusas, que estão por trás de toda esta pintura.
E enquanto tento pintar tudo isto, e muito mais, a tela continua vazia.Branca.Despida.
Vai continuar sempre vazia. É impossível preenchê-la com os meus desejos. Simplesmente, porque já não sei bem se aquilo que desejo é o que quero! É impossível preenchê-la com as minhas memórias. Simplesmente, já nao sei do que me devo lembrar!
Para quê, um quadro?Já não há mais luzes douradas a iluminar.Foi num sítio que não quero pintar, e inexistente antigamente, que, me cortaste as asas e que despiste as tuas.
É complicado pintar, uma vez que as tintas que utilizo ou quero utilizar, não ficam agarradas à tela, mas salpicam-me a roupa e a pele, com manchas difíceis de remover, de...apagar!Fico sujo e mal apresentado, para um pintor...
A tela é branca.Cada um vê o que quer, à sua maneira!Podemos ver um quadro. Um filme.Apenas um fundo branco, com um ponto.Com reticências...
Tocando na realidade, sem dar mais voltas em ondas frias que me enrolam para dentro, é tempo das congratulações e daquilo que caracteriza uma data...
...Parabéns!
Hoje é dia de aniversário.Não é dia de festa.
Mais um dia, mais um quadro...
Não sei se para alguém...
Não sei se para festejar...
Cavalo Branco
Dualitate