quinta-feira, outubro 27, 2005

Amor não correspondido

"O amor correspondido é lindo."

O resto é apenas...um cálice de lágrimas deitadas ao vento enquanto alguêm morre à sede.

Espiral

Dualitate

quarta-feira, outubro 26, 2005

Batota

Joguei às cartas com a Esperança e apostei tudo o que tinha na minha perdição. Ganhei, e ela disse “Está bem, eu vou-me embora”. E afastou-se, pequena luz brilhando, bem devagarinho e a contragosto. A Esperança é teimosa e detesta abandonar-me. Mas é também leal, e sabe que se apostamos todos os trunfos e eles continuam na nossa mão, como se nunca tivessem sido postos à prova, é porque ela deixou de representar o seu significado original. E deixamos de crer. Aperto nas minhas mãos as cartas que me levaram a vencer este jogo e sei que detesto estar certa. Jogo para trás o meu corpo indolente e caio nas poças da chuva. Sinto o frio a entrar por entre o meu vestido de lã roxa e a molhar-me a pele. Os meus cabelos encharcados pesam e fazem com que a minha cabeça se afunde mais. Mas não tem importância. Passam pessoas nos seus impermeáveis, armadas de guarda-chuvas, evitando as poças de água. Para não molhar os pés. É difícil proteger o nosso lado mais fraco. As dificuldades tem mais acesso a ele que nós. Por isso fugimos, protegemos os nossos lados fortes . Pensamos que somos inteligentes. Afastamos a vista dos outros guiando-os para a nossa armadura que nós faz sentir superiores e eles fingem que não vêem as nossas fraquezas. Ou não vêem mesmo. Só quem já chorou na solidão ouve os ecos dos gemidos. Eu sinto-os. Mas isso não conforta a minha dor. Sinto os pés doridos, estão feridos, só aqui, onde eles não aguentam o peso do mundo, posso descansar. Minutos, segundos, onde permito que se peguem a mim imagens que só li em livros e vi em filmes. Mas a vida não é como os filmes e os livros. A Esperança tinha-me abandonado. Engano-me. Eu abandonei a Esperança e escorracei-a ganhando um jogo que eu sabia perdido. Mas o desespero leva-nos a fazer batota só para nós dizer-mos que estamos certos, para gritar-mos que não merecemos, para sussurrar o que não temos, para nos ferir-nos, chagas voluntariamente feitas, que podemos controlar, para mostrar que temos o direito de nos julgarmos livres de qualquer felicidade . Sim, nós julgamos que não queremos. Levanto-me, devagarinho agora que estou sozinha, a água cai pelas minhas costas e cai-me do peito uma carta no colo. Um ás de copas. Arrasto a minha mão da água para a apanhar e ela tropeça num obstáculo. Outra carta que bóia na água. Viro-a para ver a figura. Sorrio e uma luz aparece mal manifesto uma emoção. A Esperança sorri e mostra-me mais uma carta. Um ás de espadas. Há sempre num jogo de cartas aquelas que fazem a diferença.
Obrigada dois de espadas. =)

Espiral

Dualitate

segunda-feira, outubro 10, 2005

Combate mortal

Há algo que me prende. Assim não ascendo ao céu. A minha cabeça lateja. A dor segue-me e cega-me. A tristeza abraça-me...porque estou só. Encontro sangue onde estava deitada. Feri-me enquanto dormia. Sobressalto-me com os pesadelos, arqueio as costas de terror. E um som inaudível estilhaça-me os ouvidos. Ninguém sente a loucura a vir, nem a condenam, nem a matam. Desequilibro-me perigosamente. Percebo a dor física que me trás a realidade. Entendo as feridas que não querem cicatrizar. Enrolo-me algures no mundo que irá ser destruído (mesmo isso já é passado). Finco os dedos no cabelo embaraçado enquanto ouço a música que me aprisiona. O mostrador do relógio mostra-me que ainda tenho tempo para seguir este capricho insustentável. Caio no vazio que se encontra aqui tão perto. Choro. Choro de modo a que um pingo de chuva o transforme em lembrança. E já não existe. Os meus medos ganham uma vida nova e percorrem as linhas do meu destino mistificando-o. Não vejo saída. . Só as palavras que me saem sem sentido suavizam um mar de emoções há muito desejado e ocupam os espaços que faltam. Só os meus passo censurados encontram um coração que bate. Os meus músculos contraem-se mas não sinto perigo próximo. E mesmo assim tremo. Os meus olhos fecham-se, mas eu não tenho sono., A minha respiração asfixia-se, mas eu não vou morrer. Uma maldição disse que é densa mesmo que mal curada. As nuvens fingem que se fecham quando o sol não ilumina o meu rosto. Mas o meu coração não se irá subjugar nem o medo impedir-me de me soltar. Hoje solto um sufocado suspiro, corro sem destino, a minha alma irá aqui permanecer.

***
Tremo enquanto as fórmulas matemáticas que sempre me orientaram na calada ruíram como castelos de cartas. Uma gota suada de sangue percorre-me a pele até a boca. Sabe a medo, sabe a um desespero que se soltou e que rindo cruelmente me esfrega uma bandeira negra na cara. Fugi por entre os vidros depois de uma montanha russa descarrilar. O meu corpo não se controla. Prenderam-me a um inferno, a minha cabeça ruge e os meus olhos desatinados vivem postos numa televisão que se estragou. E duram segundos. Mas parecem que foram horas que se passaram. Estou viva mas um terror frio permanece. Sinto os membros ainda doridos, e um orgulhoso pescoço custa a levantar. Mas o destino não foi levianamente escrito . Um equilíbrio mortífero manteve-se perfeito. A mortalidade faz-me frágil. Faz-me forte. E detesto assuntos pendentes ou inacabados. Eles são como relógios de uma bomba que nunca sei quando ou se irá rebentar. Por isso procuro-os e tento resolve-los. E as pontas soltas são unidas e sinto-me bem...mas um não depende só de mim e espero que o tempo seja uma estrela brilhante para mostrar o caminho dos olhos certos. E o outro custa a pegar porque muito se perde quando se desatam os nós. E não tenho forças para não ser compreendida agora. Por isso seguro-me muito de mansinho, bem devagarinho. E permito-me sonhar. Mesmo que esteja mortalmente ferida e que saiba que o dia vai chegar, hoje é noite onde preparo estratégias devido a uma batalha que perdi. É preciso remediar traços, construir pontes e coser a armadura. Olho a capa negra que me irá cobrir, faz parte do fato que usarei para conquistar barreiras. E talvez hoje seja dia em que guerrearei...talvez encontre paz no sorriso de alguém.

Espiral

Dualitate

domingo, outubro 02, 2005

(Prenda) Aniversário de um evento imaginário

Aqui, em fundo preto, gostava de pintar um quadro numa tela branca.Por mais estranho que pareça, eu gostava de o pintar,mas sem saber o que pintar.Quero pintar numa tela, aquele dia.Mas, quando para mim, aquele dia se traduz até hoje, é difícil arranjar a tela desejada e adequada.
Pinto chuva, quando estava sol?
Páro antes de começar!Ñão me consigo concentrar com todo este fumo à minha volta, e com a dispersão de memórias que saltam no meu ser e na minha memória.É demasiado duro!
Teria de ser um quadro com vida própria.Um presente de aniversário, que fosse apreciado e agradecido.Ao pintar, tinha de representar as cores que nos enchiam naquele momento. Representaria o primeiro passo, que, estranhamente não fui eu que o dei.O primeiro beijo!Mas como?Com que cores?Com que formas?...
Tinha de expressar aqueles olhares nas horas vagas em que não podíamos estar juntos.Um cabelo molhado.Tudo o que naquele momento me fazia sentir feliz, preenchido com uma aragem fina, e com um sabor de novidade.Precisava de pintar um sentimento.O único!Que misturava novidade, com tudo o que é suposto isso trazer, mas que, ao mesmo tempo, ao olhar os teus olhos era transformado em embaraçoso e inexperiente.
Representaria as horas passadas, cheias de mensagens em papéis, como duas crianças que dão os primeiros passos na escola.Era necessário pintar um dia inteiro...
Os primeiros sorrisos, o primeiro brilho dos dentes, e o conforto estético do nariz!O toque a um cabelo novo e o entrelaçar de duas mãos, na altura desconhecidas, mas que a partir daí, estiveram sempre juntas, mesmo quando não se tocavam.
Não posso esquecer a primeira separação.O retornar à casa de cada um, liderados por uma esperança e duas ansiedades de acordar no dia 3, para ver e sentir outra vez o passado recente.Pintaria o deitar, na minha cama, que já foi tua também.O fechar dos olhos, e a tentativa de descansar um corpo e uma alma, inadaptados à realidade, mas...sorridentes e puros.
"Até amanhã!".
São guitarras chinesas, batidas violentas e vozes difusas, que estão por trás de toda esta pintura.
E enquanto tento pintar tudo isto, e muito mais, a tela continua vazia.Branca.Despida.
Vai continuar sempre vazia. É impossível preenchê-la com os meus desejos. Simplesmente, porque já não sei bem se aquilo que desejo é o que quero! É impossível preenchê-la com as minhas memórias. Simplesmente, já nao sei do que me devo lembrar!
Para quê, um quadro?Já não há mais luzes douradas a iluminar.Foi num sítio que não quero pintar, e inexistente antigamente, que, me cortaste as asas e que despiste as tuas.
É complicado pintar, uma vez que as tintas que utilizo ou quero utilizar, não ficam agarradas à tela, mas salpicam-me a roupa e a pele, com manchas difíceis de remover, de...apagar!Fico sujo e mal apresentado, para um pintor...
A tela é branca.Cada um vê o que quer, à sua maneira!Podemos ver um quadro. Um filme.Apenas um fundo branco, com um ponto.Com reticências...
Tocando na realidade, sem dar mais voltas em ondas frias que me enrolam para dentro, é tempo das congratulações e daquilo que caracteriza uma data...
...Parabéns!
Hoje é dia de aniversário.Não é dia de festa.
Mais um dia, mais um quadro...
Não sei se para alguém...
Não sei se para festejar...

Cavalo Branco

Dualitate

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