sábado, fevereiro 10, 2007

Rectângulos

Olho para todas as pessoas à minha volta. Tem todas as idades. Mas todas estarão sempre na idade dos risos permanentes. Vejo a minha mão. Onde seguro com força a folha do papel que tem todas aquelas letras descuidadas que foram premiadas por alguém que considero mestre. Que consideramos mestre. Ganhei. Não sei como. Ganhei… Não. Quem ganhou foram estas letras emparelhadas que exprimem o que os meus olhos viram e o que o meu coração sentiu. Eu sou apenas a mão voyer que as usurpou, escrevendo-as para outros olhos as consumirem lendo-as.
Olho-te. Tu olhas a janela embaciada. Cheia de gotas de chuva. Mas não choveu. Deixaste cair no chão uma folha. Premiada. Ouço sempre os risos despreocupados. Mas continuas seriamente ausente.
Aproximo-me. Hesitante. Pego na folha. Olho-te. Mas tu não pareces ligar se vejo ou não. Viro-a. Meia página. Meia página com rectângulos horizontais de várias cores. Amarelos. Vermelhos. Azuis. Verdes. Pretos. Estranho. Pestanejo. Olho com atenção. Há palavras escritas. Uma palavra em cada rectângulo. “Lendo-te”. Não…. Lado…qualquer coisa…não…acho que é….é…”Leva-me”. A mesma palavra escrita a cores diferentes em cada rectângulo de cor diferente. “Leva-me”. A palavra que ganhou o mesmo que todas as minhas palavras emparelhadas escritas pela minha mão voyer. “Leva-me”. Mas acho que a culpa é daquelas cores. De todas aquelas cores rectangulares E daquela palavra. “Leva-me”. Para quem falas? É uma súplica? É um pedido? É uma ordem? É uma necessidade?....Não sei. Ouço os risos permanentes e despreocupados. Seguro a tua folha com força. É o teu planeta, do outro lado da janela? Talvez seja. Seguro na folha. Olho-a. Hesito. Remexo-a. Tenho medo da serpente. Olho-te. A ti que olhas seriamente ausente para o outro lado da janela. Para o que pode ser, talvez, o teu planeta. E, talvez, por detrás das minhas dúvidas, apenas sorria, te estenda a mão e pergunte simplesmente onde queres ir…
Espiral
Dualitate

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