sexta-feira, março 07, 2008

Escuro

Seguro-me no fundo do poço. Seguro-me aquelas paredes molhadas e escorregadias, nojentas do lodo. Mas abraço-me. Sei que se o parar de fazer serei puxada. Cada parte do meu corpo será puxada até rebentar. Será tão rápido que não poderei olhar e escolher o que rebentar. Tentarei segurar...mas é tarde. O barco há muito que partiu do porto que ficou. E a luz daquela vela se apagou. Deixando a sala gélida dos candelabros esfumados. Ventos fortes, sopram no poço, e eu tenho frio. Tento tapar os buracos que me enregelam. Sem muito jeito. Com cuspo e mel.
Esqueço os sentidos que se queimaram. Esqueço os sentimentos que se abandonaram. Esqueço a voz que se matou. Escalo o poço, esfolo os joelhos e parto as unhas. O meu cabelo emaranhado cola-se de porcaria à cara. Os restos do meu corpo ensaguentado cola-se ao meu vestido esfarrapado. Mas subo. E puxo a alavanca que inunda o poço de água. Uma mão atravessa a linha da água. Puxo-me para cima. Caio para a terra. Por momentos esqueço que estou na poeira e descanso. Mais tarde pensarei...

Espiral

Dualitate

p.s. algures pelo dia 9 de Fevereiro...

Powered by Blogger