domingo, outubro 26, 2008

Tango

E sentir um beijo assim. Próximo. Um toque que quase vem e que se apaga. Um tormento de uma respiração cálida que me percorre o pescoço para se afastar. O coração bate. E uma alma grita que te aproximes. E juntamos rostos e mãos antes de notarmos que não dançamos com ritmo certo, mas sim sem restrições aparentes, como num jogo. Rente à despedida aproximas-te, só para te puderes afastar de novo resguardado pelo que guardas.

"....Podem passar mil homens por mim..."

E aquele momento em que o meu coração parou? A tua face a milímetros da minha... Amor, perto ou longe, lembro-me de toques, de respirações, de sentidos. E já troquei de par. Já desci outras escadas. Já dançei outras danças. Já andei de casa em casa. Mas, surge, num momento qualquer, desapegado de coerência, que a existência, de eu em ti e tu em mim segue uns compassos de música.

"...Pernas entrelaçadas nas minhas..."
 
Queres-me para ti. Faz-me desejar-te. Mais que tudo é o rosto que sinto perto que importa mais. E voltas para mim, a sentir o que pedi, ajudas-me a levantar, e tenho a noção dos teus dedos na curva do meu pescoço, e os teus lábios selados na minha face. A tua mão na minha cintura sustêm-me e impede a queda provocada pelas cordas que se partiram. 
Volto a rodar, dou dois passos na tua direcção, mas solto-te e procuro outras realidades. 

"...Dores reconfortadas no meio de silêncios..."

Tento acalmar os meus lábios trémulos e sedentos. Sinto a rotina e a ânsia de mãos dadas a aproximar-se. Troco de perna, de vestido, de par... Não permitirei que mais ninguém corra, não permitirei que mais ninguém se encoste assim, como quem espera. Talvez desmaie, ou reviva, no meio de tanta música, de tanta cor, de tantos corpos. 

"...esperando partidas e regressos no meio da paixão."

Só sei que no momento em que os nossos narizes se tocam e os nossos olhos permanecem baixos, sinto um fôlego carregado de expectativa levada pela dança que construimos e pela música que ouvimos. 

Dualitate

Espiral

(rascunhado e inspirado no espectáculo Tango Fire de dia 27 de Setembro de 2008)

Inspiração escrita - "O tango é um pensamento triste que se pode dançar" (Enrique Deluchi)

quinta-feira, outubro 09, 2008

Frágil

Se vieres até aqui, vem devagar. Levanta as pedras que precisares para investigar. Mas por favor não faças poeira. Destranca as janelas, deixa o ar da noite entrar, mas não autorizes as buzinas e o barulho da cidade. Passeia por todas as divisões, toca no que quiseres, mas não derrubes nada. Entra na biblioteca, sobe a escada mais alta e escolhe o teu livro favorito. Mas não o folheies. Guarda-o para o leres mais tarde. Não corras, não grites, não fales. Aproxima-te, mas não te faças revelar. Não deixes que te note. Porque eu estou aqui. Deitada, olhando o vazio da parede. A tremer, sem que uma única partícula de mim se mova. Só quero dormir. Só quero estar aqui. Só quero existir. E a tua proximidade perturba-me. Por isso, não te aproximes do meu espaço vital.

****

Deixou-se cair naquela cadeira cheia de pó. Não sabe o que procura. E está cansado. E talvez farto. E aquele desejo não chega para tanto. Levanta-se e deixa cair a canção. E os marcadores. Fazem tanto barulho neste chão isolado... Encolhe os ombros, olha para trás. E quase atira o casaco. Depois muda de ideias e sai.

Espiral

inspiração : este post (lindo) aqui

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