segunda-feira, outubro 10, 2005

Combate mortal

Há algo que me prende. Assim não ascendo ao céu. A minha cabeça lateja. A dor segue-me e cega-me. A tristeza abraça-me...porque estou só. Encontro sangue onde estava deitada. Feri-me enquanto dormia. Sobressalto-me com os pesadelos, arqueio as costas de terror. E um som inaudível estilhaça-me os ouvidos. Ninguém sente a loucura a vir, nem a condenam, nem a matam. Desequilibro-me perigosamente. Percebo a dor física que me trás a realidade. Entendo as feridas que não querem cicatrizar. Enrolo-me algures no mundo que irá ser destruído (mesmo isso já é passado). Finco os dedos no cabelo embaraçado enquanto ouço a música que me aprisiona. O mostrador do relógio mostra-me que ainda tenho tempo para seguir este capricho insustentável. Caio no vazio que se encontra aqui tão perto. Choro. Choro de modo a que um pingo de chuva o transforme em lembrança. E já não existe. Os meus medos ganham uma vida nova e percorrem as linhas do meu destino mistificando-o. Não vejo saída. . Só as palavras que me saem sem sentido suavizam um mar de emoções há muito desejado e ocupam os espaços que faltam. Só os meus passo censurados encontram um coração que bate. Os meus músculos contraem-se mas não sinto perigo próximo. E mesmo assim tremo. Os meus olhos fecham-se, mas eu não tenho sono., A minha respiração asfixia-se, mas eu não vou morrer. Uma maldição disse que é densa mesmo que mal curada. As nuvens fingem que se fecham quando o sol não ilumina o meu rosto. Mas o meu coração não se irá subjugar nem o medo impedir-me de me soltar. Hoje solto um sufocado suspiro, corro sem destino, a minha alma irá aqui permanecer.

***
Tremo enquanto as fórmulas matemáticas que sempre me orientaram na calada ruíram como castelos de cartas. Uma gota suada de sangue percorre-me a pele até a boca. Sabe a medo, sabe a um desespero que se soltou e que rindo cruelmente me esfrega uma bandeira negra na cara. Fugi por entre os vidros depois de uma montanha russa descarrilar. O meu corpo não se controla. Prenderam-me a um inferno, a minha cabeça ruge e os meus olhos desatinados vivem postos numa televisão que se estragou. E duram segundos. Mas parecem que foram horas que se passaram. Estou viva mas um terror frio permanece. Sinto os membros ainda doridos, e um orgulhoso pescoço custa a levantar. Mas o destino não foi levianamente escrito . Um equilíbrio mortífero manteve-se perfeito. A mortalidade faz-me frágil. Faz-me forte. E detesto assuntos pendentes ou inacabados. Eles são como relógios de uma bomba que nunca sei quando ou se irá rebentar. Por isso procuro-os e tento resolve-los. E as pontas soltas são unidas e sinto-me bem...mas um não depende só de mim e espero que o tempo seja uma estrela brilhante para mostrar o caminho dos olhos certos. E o outro custa a pegar porque muito se perde quando se desatam os nós. E não tenho forças para não ser compreendida agora. Por isso seguro-me muito de mansinho, bem devagarinho. E permito-me sonhar. Mesmo que esteja mortalmente ferida e que saiba que o dia vai chegar, hoje é noite onde preparo estratégias devido a uma batalha que perdi. É preciso remediar traços, construir pontes e coser a armadura. Olho a capa negra que me irá cobrir, faz parte do fato que usarei para conquistar barreiras. E talvez hoje seja dia em que guerrearei...talvez encontre paz no sorriso de alguém.

Espiral

Dualitate

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Prenderam-me a um inferno, a minha cabeça ruge e os meus olhos desatinados vivem postos numa televisão que se estragou. E duram segundos. Mas parecem que foram horas que se passaram. Estou viva mas um terror frio permanece." ...

podia dizer que escreves bem, que gosto muito do que escreves mas iria estar apenas a repetir-me e acho que não te estaria a dar novidade nenhuma ... és realmente fascinante ... e coincidencia ou não, a verdade é que há sempre uma(quando não sao varias) parte do teu texto que me é familiar...
continua
=)

terça-feira, outubro 18, 2005 1:05:00 da tarde  
Blogger catavento said...

sempre que te leio sou transportada para uma outra dimensão visual em que tudo consigo ver e imaginar. levo comigo as perguntas que me fazes fazer e as que quero fazer tal como num "jogo de perguntas", as palavras ficam desorganizadas em turbilhão e levam tempo a organizarem-se e sabe bem esse tempo. sabem bem esta dúvidas que nos contemplam.

se a tristeza te abraça decerto também tu a abraçarás...talvez hoje seja o dia do teu confronto, talvez hoje seja o dia da tua paz...
tenho orgulho em ti, guerreira**

quarta-feira, outubro 19, 2005 8:46:00 da manhã  
Blogger Rui said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

quarta-feira, outubro 26, 2005 4:48:00 da manhã  
Blogger Rui said...

Como te tinha prometido, aqui vai a minha impiedosa crítica ;) Numa frase: devia ser criada uma lei que impedisse que uma pessoa que escreve tão bem tenha o direito de se sentir tão estagnada, tão vulgar. Os teus escritos estão a tornar-se realmente belos e significativos. Faz um favor ao mundo (pelo menos a parte que te conhece) e continua sempre a escrever. Beijinhos :)

(PS: o comment anterior é igual a este e apaguei-o por acidente)

quarta-feira, outubro 26, 2005 4:55:00 da manhã  

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