domingo, setembro 11, 2005

Sinais de Ítaca

Desperto. Ainda mantenho os olhos fechados vendo uma grande escuridão. Lembro-me que basta abri-los. Faço-o . Estranho as cores cinzas e negras que me cercam. Não foi aqui que adormeci. Olho em volta tentando encontrar familiaridade. E noto que ela existe. Três ou quatro conhecidos, bons amigos encontram-se perto de mim. Sei que estou de pé e ando, mas sinto-me hipnotizada. Que paragem no tempo me impediu de ter consciência do passado que me trouxe aqui? Parecem todos saber o caminho a seguir mas eu estranho: sinto uma presença incorrecta neste espaço. Olha para atrás, mas apenas vejo um vulto sem semelhança a nada. E o tempo pára quando um raio de sol finta a escuridão e mostra-me quem se encontrava escondido. Emudeço, reconheço a face...será que me iludo?...mas um sorriso já pesponta e não há surpresa aqui. Só o cabelo se encontra diferente. Sente que não é este o palco que se preparava para pisar. Sobe-se escadas, andamos num labirinto. Estou inquieta aqui, qual o papel que devo representar? Ouço um barulho e assusto-me. Mas um instinto debate-se mesmo que não o enfrente. E não procuro saber o que se passou, não faço perguntas. Sei que há um fim onde iremos chegar. Silêncio. Uns olhos interrogadores poisam em mim. Sou o fio condutor que o liga aqui. Mas eu não sou ninguém para ti. Sinais que revejo. Poemas que li. Mapas que traço, de lápis em punho (incerto). A culpa é do lenço que me venda os olhos. Grito no silêncio. E ninguém escuta. Cordas vibrantes de harpa são abafadas quando há algo mais ensurdecedor. Uma mão vindo do nada agarra a minha. Sou apanhada desprevenida. Uma bola de respiração forma-se no meu peito. Esqueço-me de como se respira. E no tempo de um estalido volto a mim. Já não estou cega. Realidade. Estou desequilibrada. Prestes a cair no vácuo (uma escada que se partiu, um buraco que se abriu, um precipício que se formou...onde estou) . Mas sinto um peso quente na mão. Ainda poisam nela os teus dedos que vão escorregando à medida que caio. Imana de ti a surpresa de tal gesto involuntário. Hesitas, mas saltas. E expande-se uma alegria em mim. Uma luz invade a cena. Adormeço para o sonho. Acordo para a realidade. É manhã de hoje . Seguraste-me?

Espiral

Dualitate

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

'Realidade. Estou desequilibrada. Prestes a cair no vácuo (uma escada que se partiu, um buraco que se abriu, um precipício que se formou...onde estou)'

não podias estar mais certa ...

continua a escrever... assim ...

beijinhu anonimo

terça-feira, setembro 13, 2005 2:36:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

será que nos sonhos há presenças incorrectas? e na realidade? será que essas presenças não estarão coreectas e apenas nos incomodam? ah e já agora, chegaste a escolher algum papel para representar? apenas um?

um beijo perguntador*
(parece-me ter voltado)

sábado, setembro 17, 2005 12:52:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

e como o prometido é devido, aqui deixo a nota...regressei há pouco e como não podia deixar de ser vim fazer aqui uma visita. comecei a ler de onde tinha ficado, da última vez. li tudo seguido.
li a cor (implicita e explicita) das vossas palavras e li a dualidade que existiria nelas, no fundo um fio condutor e de união na escrita de ambos que sendo tão diferente e sobre momentos e realidades tão diferentes(??);pareceu-me por vezes estar a ler um dialógo entre uma "espiral" e um "cavalo branco"...talvez seja essa a essência da dualidade, a diferença que só existe por haver semelhança. a ideia está-se a tornar cada vez mais genial! parabéns!

domingo, setembro 18, 2005 1:09:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Nos sonhos talvez haja presenças questionáveis. Na realidade há presenças inevitáveis. As presençãs terao um papel a desempenhar, mau ou bom, o tempo o dirá.
Não consigo escolher um papel para desempenhar . Eu não sou actriz.


Catavento, obrigada pela nota ^^. Apesar de já termos falado sobre o temo é bom deixar marcas nos sítios po onde passamos.
Beijo doce para ti***

domingo, setembro 18, 2005 7:37:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Um sonho teu...traduz, por vezes a realidade de algum "meu".Quando lá vemos uns amigos, já é positivo(espero sempre ser um deles).
"qual o papel que devo representar?"..."Mas eu não sou ninguém para ti"..."Seguraste-me?"
Isto é a realidade.A tua?A minha?A de todos, por certo...(?!)Muito, espiral.Muito a meu gosto.

beijo.CB

segunda-feira, setembro 19, 2005 2:26:00 da manhã  

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