terça-feira, novembro 18, 2008

Adaptação

"Vamos racionalizar a dor. Procurar por todas as estratégias de coping para a adaptar. Para a abafar. Para a tornar um pouco menos gritante, um pouco mais amansada. Um pouco mais civilizada. Vá... podes soltá-la, às vezes. no escuro, quando ninguém vê, quando ninguém escuta. 
E nesse momento estás autorizada, pessoa. Podes ouvir aqueles músicas e sofrer. Tens cinco minutos. Exactos. Nem mais nem menos. Depois vamos fecha-la novamente. Para o teu próprio bem. Para poderes ir. Para poderes ficar. Vamos fechar todas as portas. Vá, até daqui a 24 horas." 


***

Pego na mala castanha. E aceno lenta e ironicamente. Eles pensam que ganharam. Os meus braços picados e nus parecem mostrar que sim. Mas eu ainda ouço as músicas a todas as horas nos meus ouvidos. E aquele telefone que podia usar todos os dias permitia-me não me esquecer de mim. Olho em volta e só vejo uma estrada rodeada de poeira. É aquela que terei que seguir agora. A única. Mas vou segui-la. Porque eu quero. E o pó pode transformar-se em pedras ou em ervas. Talvez até ao longe esteja uma flor. Uma flor qualquer. 


Dualitate

Espiral


Inspiração: um filme "Mentes Perigosas"; um post "trilhos"; um poema "Do not go gentle into that good night" (Dylan Thomas); uma música... à escolha.

quarta-feira, novembro 12, 2008

10 graus

O vento pergunta-me de que tenho medo. Eu respondo que tenho medo porque estão 10 graus e eu não tenho frio. Pode ser que o meu nariz congele e eu nem note. A minha garganta doí... e depois? O vento sopra, o tempo arrefece e eu não tenho frio. 
Se calhar estou vazia. Se calhar vou ficar vazia. E é isso que me impede de sentir frio. Porque ainda quero sentir um calor. E condenso-o em mim. Porque se sair ficarei gelada. E eu tenho medo de ficar gelada e vazia. Tenho medo do meu riso sair estranho. Dos meus olhos se dilatarem. De dizer frases que nunca concebi e de sentir emoções que não eram as que quereria. De parar de sentir?... Por isso seguro este fio quente. Que não me deixa sentir os 10 graus que andam cá fora. Que me permitem ouvir o vento que me pergunta de que tenho eu medo. 

Espiral


Inspiração musical - "Adeus, não afastes os teus olhos dos meus" (David Fonseca)

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