quarta-feira, maio 24, 2006

Renuntiare

Olhou-te pela derradeira vez no calvário de uma melodia triste. Um vento agreste passa e agita as cartas que voam, enfeitiçadas, depois de um jogo de azar que ganhou. Lágrimas desperdiçadas conquistadas à lua, combinam com sorrisos volúveis deitados na cama que acordaram sozinhos. É o retrato manchado da figura imóvel que corre ao teu encontro ou que foge de ti. Uma visão fixa, sem sentimento, lacera as veias de quem já escolheu caminhar sozinha. Uma fuga que cavalga porque não pode andar. Um lampejo de cólera ameaçada por uma chuva de docilidade que carrega um mundo de corais e de brilhantes que ficaram por mostrar. Um vestido que estaca, uma perna que cede, um corpo que resvala para sucumbir antes de morrer para ti . Uns cabelos relampejam, selvagens, enquanto uma mão ensanguentada arranca um coração do fundo das trevas e guarda-o junto ao peito. Um grito procura a borda do chafariz para onde salta um corpo que precisa de respirar o ar do céu. Um corpo que se expande para o alto. Desconhecidos que se viram, embasbacados. O milagre da água que não corre ali serpenteia pela fonte que secou. Desperdiça um dom queimando palavras opacas e vazias. Riu histericamente até ficar louca. Cobriu-se de ridículo. Dá um murro no ar enquanto salta e cai, cega. Fica ferida. Pulsa uma alma transparente que nem uma só palavra dita num murmúrio cruel pode escravizar. Nem um som é jugo. Por isso olha-te. Ferida, amarrada ao inferno para onde se atirou...e mesmo assim....deposita flores de plástico sobre a tua campa. Sobre a tua campa vazia.

Espiral

Dualitate

(Ao som de Donna Maria - aqui tão perto de ti)

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

donna maria ... mto bom ... o texto (só para variar...) está brutal ... gostei =)

quarta-feira, maio 24, 2006 5:18:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

tenho lido alguns textos teus..e chego a uma conclusão:
acho que és uma pessoa mto intensa naquilo que sonhas e vives, confusa em interpretações do mesmo. Pronto um pouco como eu! Parece que vives em constante agonia, e não tens medo de o mostrar, o que é qq coisa mto apreciavel. Gosto daquilo que escreves pq tem sp qq coisa de relativo a quem o le...
bem...n sei
um beijo

Ana

quarta-feira, maio 24, 2006 8:06:00 da tarde  
Blogger catavento said...

bem, tu tens aquele dom para finais! adoro sempre os teus finais - é como se o clímax chegasse apenas na última linha e na última palavra.
flores de plástico - genial... quanto ao resto acho que voltaste ao teu turbilhão louco e espiralado e denso e às vezes confuso e baralhante (não estou a dizer que isso é negativo, hem?!)

próximo...

quarta-feira, maio 31, 2006 3:58:00 da tarde  

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