segunda-feira, junho 05, 2006

Guitarras

Procuro no meio das cassetes antigas. Espalho-as e algumas partem-se. Porque não encontro em cds. Uma música que se ria. Uma música que chore. Uma melodia...uma simples melodia. Ouço músicas tristes, ouço músicas...música, canções, baladas...posso arranjar todos os sinónimos que nada se enquadra. Retiro colcheias, e junto pausas que farão parte dos meus silêncios, daqueles onde tu não estás. Junto semicolcheias para rapidamente encontrar uma solução, mas ela não vem. Apenas a verdade, que escorreu devagarinho para o meu coração sem passar pelo racional que se esconde pelo cérebro. Uma flor que murchou sem tempo para desabrochar. Um vestido de baile na prateleira da costureira que se esqueceram de ir buscar. Coloco um bemol no fá mas nem assim deixo de repensar no que ficou do que não foi. Talvez se usar um sustenido que coloque a direita de cada nota mude qualquer coisa. Mas não muda nada. Pego no cd que gravei só para mim e ouço todas as músicas. Grito. Nego. Não é isto! São todas eu mas nenhuma se tornou um nós. Como é que enterro uma recordação se não tenho uma banda sonora apropriada? Falta-me os violinos para o luto. Falta-me a bateria rebelde acompanhada por um baixo paciente. Falta-me o murmúrio de um piano que quero calar deitando-me nele. Para de seguida tocar nele uma melodia simples. Ouço canções do meu passado. Lembro-me das vozes, dos gestos, até dos cheiros de quem perdi. Porquê? Porquê não encontro a música que me faça esquecer de ti? Agora preciso de te colocar numa gaveta arrumada. Ouço o rock mais duro seguido do instrumental mais puro....ouço pop eléctrico e português numa voz arrastada. Ouço vozes profundas e negras, ouço vozes timbradas....e não é isto. E eu não mando nada. Quero sair. Sufoco neste trailer sem música. Desejo ouvir uma música que me faça suspirar por ti. E sempre foi esse o problema. Esse que não entendi no momento . Nem no não-momento. Nem no nada do que não existiu. Saliento. Ponho a correr um carrossel de músicas. Desespero. Alguma vai ser. Para eu te enterrar. Para chorar por ti de mansinho às vezes. Para se a ouvir na rádio, ou no cabeleireiro quando entro, eu sei, sorrir com amargura. Mesmo sabendo que o meu coração rebenta por não aguentar tal tristeza. Preciso de um som...para me lembrar de me lembrar de ti quando te esquecer...

Inspiração melódica: depois de muitas incertezas...talvez... “kaoru’s theme” (guitar)…talvez…

Espiral

Dualitate

2 Comments:

Blogger catavento said...

"Como é que enterro uma recordação se não tenho uma banda sonora apropriada?" talvez as recordações tenham uma banda sonora própria, apenas com dois andamentos:triste e alegre ou bom ou mau. talvez as canções das recordações sejam aquelas que lá estão nos momentos antes que estes se tornem nisso mesmo, recordações.
sejam quais forem os temas escolhidos serão sempre arrepiantes "quando entramos no cabeleiro e a ouvimos, ou quando ligamos o rádio" e naquele momento o sorriso transforma-se numa face séria e triste com o que sentimos naquels notas quase inocentes e quase mortais.
adorei. tudo. as palavras, as frases, os sentidos. parece-me que voltaste à tua encantadora simplicidade...

beijo*

segunda-feira, junho 05, 2006 3:58:00 da tarde  
Blogger catavento said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

segunda-feira, junho 05, 2006 3:59:00 da tarde  

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