quarta-feira, janeiro 18, 2006

Vazia

Estou triste. Esqueci-me que tenho de sonhar. A preguiça não me deixa criar mundos. A coragem sabe que não há uma ponte para atravessar. E não tem utilidade se cair no rio. Não sabe nadar. Sei, que pela lógica, devia escrever sobre sorrisos desmentidos, olhos convencidos, sobre um calor, que julgo não me pertencer. Mas um coração gretado só pode bater, bater, pulsar devagar, ritmado, como um qualquer coração faz.
Para viver, o sangue corre. Tudo está bem assim. Faço os meus deveres, ato algumas pontas e não deixo assuntos a sujar os caminhos. É quase perfeito de tão certo. É tão tranquilizador saber o que fazer. Sei o que fazer se me põem uma venda nos olhos. Fico parada e não me mexo. Se não ando, não posso cair. Se não me mexo, não me desequilibro. Se não tremer, não sabem que me assusto. Não é bom? Assim não me acontece nada. E não minto. Mas sei que a venda irá cair. E sei que haverá outra paisagem para onde olhar. Afinal não estou triste. Nem vazia. Estou no túnel que me levará até à próxima estação.

Espiral

Dualitate

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tu tens aquele "dom", de escrever, e sempre q escreves eu consigo aplicar isso a alguém.A ti, a mim, a outras pessoas q conheço.Não te quero vazia.Não te quero parada.Mas também tu, não queres isso.Quanto ao túnel, talvez seja só...um túnel temporal.Esse tempo demora, mas a estação...está "já ali, do outro lado".Este post fez me lembrar uma frase...bastante curiosa: "i want a new mistake.lose is more than hesitate...".Vazio. Beijo

Cavalo Branco

quarta-feira, janeiro 18, 2006 6:08:00 da tarde  
Blogger Rui said...

A tua escrita é muito vívida e tens a capacidade de conseguir passar para o papel aquelas sensações "reais" que são sempre tão difíceis de descrever, «as frequências da angústia, as tonalidades da paixão»... Ainda falaria de alguns pontos específicos do que escreveste, mas depois já sei que seria acusado de fazer filmes, argumentos,.... :)) Continua, enquanto escreveres tens aqui um leitor ;)

segunda-feira, janeiro 23, 2006 1:51:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Pergunto-me porque existem estes momentos de "túnel até à próxima estação". Períodos de quase "latência" em que nos limitamos a fazer os "deveres" sem deixar pontas sem nó, e onde tudo "É quase perfeito de tao certo".
Momentos destituidos de sonhos e inspiração, sem mentira, mas em que no fundo nos escondemos de nós próprios, à espera que a próxima paragem chegue.
Pergunto-me então.. Quão lúcidos podem estes momentos ser?
*beso

segunda-feira, janeiro 30, 2006 6:26:00 da tarde  
Blogger catavento said...

"Se não ando, não posso cair. Se não me mexo, não me desequilibro. Se não tremer, não sabem que me assusto." desculpa mas não consigo acreditar, que seja sempre assim. há coisas que não podemos deter ou evitar.penso que mesmo sem andarmos, poderemos estar a cair num qualquer abismo cá de dentro, mesmo sem nos mexermos podemos estar a desiquilibrarmo-nos, o não movimento pode até ser um sinónimo de ausência de harmonia, se assim não formos e há quem saiba descobrir os sinais de medo ou de susto por mais que os escondamos.
mas há tuneis. e sabem bem. porque chegar e ver essa outra paisagem de que falas é espectacular. já pensaste que quando chegamos à estação seguinte, entramos na seguinte e depois na outra e na outra?
gostei muito destas linhas, gosto quase sempre, são muito perguntadoras...e pensadoras =)
bj* (será que algum dia estiveste verdadeiramente vazia? não me parece)

quinta-feira, fevereiro 02, 2006 6:55:00 da tarde  

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