quarta-feira, dezembro 14, 2005

Mãe Amor

Mais um corpo vivo. Menos um sentir de vida.Apenas e só...

Viajante de corações, aninhou-se nuns.Noutros!Deixou o seu, preso a um que já não tem a mesma forma, que já não tem o mesmo pulsar.As teias que o prendem são finas.Mas continuam lá!São demasiado finas para se romperem.São demasiado grossas para se queimarem. Fazem sentir-se a cada crespúsculo.A cada palpitar.Há um homem perdido.Outrora uma criança alcançando sua Mãe.A Mãe Amor!O amor é em todos nós uma Mãe.Alimenta-nos.Suporta o peso da nossa existência.Faz-nos sentir especiais.Destrói-nos por fora.Constrói-nos por dentro...
A criança à espera de alimento...
O adulto a morrer à fome...
No passado, a Mãe estava lá,dando-lhe tudo o que era necessário, tudo o que lhe “competia”.Mãe e filho viviam juntos, como um só.Era como se já tivesse nascido, mas estava ainda dentro do seu próprio corpo.Atravessavam os mesmos desertos e íam bebendo da mesma água.Pura.Era indescritível a via de libertação sentimental da criança.Era feliz.Era viva.A Mãe tocava docemente o rosto do seu filho, dando vida às suas lágrimas, exorcizando todos os seus medos, engolindo todos os pedaços de dor.A criança crescia saudável.Era forte.Era bela por dentro.Não há nada mais natural que o amor maternal.Dá à criança um cheiro tenro.Um sabor de paz.É o toque da realidade, que permite tudo enfrentar.
Mãe e filho foram construíndo uma intimidade única.Uma vivência inexplicável.Um homem.Uma mulher.A origem!
Uma mulher única.Que faz sentir um arrepio na espinha, a cada vez que a sua brisa passa pela alma masculina.Era intensamente colorido.Os seus corpos conheciam-se mútuamente, sendo partes integrantes da mesma matéria. Não há nenhuma relação tão próxima fisicamente como a relação Mãe-Filho, o filho está dentro da Mãe na parte mais importante da sua vida. Havia um cuidado bilateral, que unia os dois, quase como se o cordão umbilical nunca tivesse sido realmente cortado pelas mãos de um desconhecido.Era um cordão invisível, mas...infinito.Inseparável.
Nada é eterno!Nem mesmo a relação maternal.Subitamente, a morte separa sempre as coisas umas das outras. A partir de um certo momento, o filho ficou órfão.Órfão de Mãe.Órfão de Amor.Orfão da conjugação - Mãe Amor.Foi tempo da saída do filho do ventre maternal.Uma separação que nunca mais é recuperada.
Hoje é assim!Tudo se perdeu!E enquanto o filho morre ao frio, a Mãe ignora o próprio calor que reside no seu interior. Enquanto desesperadamente o filho precisa do leite, a Mãe secou o peito.No choro do filho, a Mãe finge não ouvir. A meio da noite, já ninguém embala o berço da criança.A violência com que as mãos maternas arrumaram todo o seu amor e partiram é...devastadora.Egoísmo de Mãe?
A criança deu lugar ao homem.O homem que caminha pela ausência de luz.Uma vida levada a... sobreviver e a relembrar os tempos de criança.Os tempos em que o colo da Mãe era o sítio onde desejava passar o seu Mundo.Todos relembramos esses tempos...
A Mãe era parte integrante do seu presente.Sempre que ele corria, era alcançado!Sempre que caía, era apanhado!E agora? Como anda um homem, que perdeu todos os seus passos de criança, ensinados pela Mãe? Como se levanta, quando o cordão já não está lá para segurar? Como faz amor, quando o prazer era maternalmente interior?
Mãe Amor, reveladora de todos os sentimentos que existem no filho.Indicadora de todos os passos errados.Alerta vermelho para os desníveis do Ego.Catalisadora de todas as emoções.Necessária em todos os actos.Exclamada e venerada no doce leito.Raínha de sentimentos!Razão de viver!
Foi algo que cresceu e que se reproduziu.Complexamente, deu à luz,um sentido de vida.Embrulhava tudo num sentimento vivo.
A criança de ontem.O homem de hoje.Viajavam.Viajaram.Com uma única coisa em comum, a dependência da Mãe.Fonte de inspiração!Fonte de Prazer!Quando o tudo é nada, o filho não sorri.E a Mãe?Sorri?
A Mãe Amor matou o próprio filho...
Cavalo Branco
Dualitate

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

um texto que toda a mae iria gostar de ler.. um texto que algumas maes deveriam ler, porque está bom. mt bom.
nao ha como a relaçao mae-filho. nao se esquece.nao se evita.nao se rompe com o passar dos anos, o odio ou a substituição. é pura e (atrevo me a dizer) inata. é acima de tudo necessaria *bj

quarta-feira, dezembro 14, 2005 10:39:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

há quem divida e distinga o amor em diversas parcelas...paternal, filial, maternal, sexual, emocional, marital...commo se algo assim pudese ser quantificado ou comparado...comom se algum fosse melhor ou maior que o outro. Eu acredito que por detrás das diferenças que cada um tem há algo que os une, algo avassalador que desafia a lógica, o correto, o racional...um Amor sem tréguas, injustificado, ilimitado.
Sem porquês.
Beijo enorme

p.s. sabes... A mãe amor pode ressuscitar o filho =)...e agora a chalaça...aconteceu uma vez (Jesus...topas?) ah ah ah...vá...sabes qual é o lema, não controles!

quinta-feira, dezembro 15, 2005 10:31:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Concordo que apesar das diferenças entre esses "tipos" de amor, há algo por trás.Algo insano e descontrolado, que dá o Sal ao amor.Se bem que há pessoas que não gostam de um amor assim.Preferem uma "coisa" sem sal nem pimenta.E o açúcar também não abunda!Mas como o lema é o que nós sabemos, eu não controlo!E o amor tem de ser louco.Completamente!Neste caso, a Mãe Amor é a mãe do amor do homem.Não é a mãe biológica,nem se parece com isso!Simplesmente lhe dei o "nome" de Mãe, porque é uma "base", um "início" do amor daquele homem (e quem é o homem, quem é?!)
Além disso, este texto não é para todas as mães, uma vez que não se aplica a todos os homens.Há uma mãe!Há um filho!Únicos.No texto e não só!É a minha interpretação de uma pseudo-história de amor que conheço bem.A outra pessoa já nem sabe dela!Por isso..duvido que a mãe possa ressuscitar o filho.Pelo menos esta mãe...Definitivamente, esta não...e a outra que eu conhecia e que acarinhava o filho..morreu também!

PS - andas uma chalaceira....lol.Mas eu gosto.=) Beijo e obrigado pelo comentário.

quinta-feira, dezembro 15, 2005 12:50:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gosto.

mae biologica só temos uma, é certo. por vezes encontramo-la demasiado cedo e nem percebemos que é ela a nossa (verdadeira) Mae Amor, outras vezes a mae morre deixando o filho orfão. no entanto, as maes adoptivas existem e encontrar uma que nos faça voltar a sentir que "Os seus corpos conheciam-se mútuamente, sendo partes integrantes da mesma matéria." pode ser muito bom... não é igual, não substitui, não nos faz esquecer, mas faz-nos lembrar que conseguimos amar imensamente, de todas as maneiras e de maneira nenhuma, com tudo e sem nada, só uma parte e inteiramente...
A mae amor (biologica) matou o proprio filho ... a mae amor (adoptiva) fe-lo renascer... =)

sábado, dezembro 17, 2005 5:10:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

sempre houve maneiras diferentes de olhar para uma qualquer coisa. uma pessoa, um texto.. um sentimento.

quinta-feira, dezembro 22, 2005 11:18:00 da tarde  
Blogger catavento said...

talvez o filho da Mãe Amor nunca verdadeiramente nascido, talvez ele não fosse mais que fruto da imaginação dessa Mãe tão especial, talvez...tanta coisa...talvez...
o que é certo é que o filho da Mãe Amor já não me dá a mão...e a Mãe Amor, despedaçada pela dor será incapaz de conceber de novo!

quinta-feira, dezembro 29, 2005 10:44:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estas pequenas grandes palavras conjugadas que aqui deixaste levantam tantas mas tantas questões existenciais.. Ao passar os olhos por este texto surge a questão de que o amor maternal de que falas possa ser confundido por instinto maternal, serão amor e instinto materniais sinónimos? Será que esse amor/instinto não é algo construído no nosso desenvolvimento social? Será que as mulheres não são preparadas durante toda a sua infãncia para cuidar do filho que irão conceber quando estiverem dentro da sua idade fértil?
Outra questão que este teu texto suscita é o facto de a mãe suscitar tanta dependência ao ser que concebeu. Eu pergunto-me se em casos brutais como os maus-tratos e crimes que algumas progenitoras cometem poderão estar mesmo associados a esse amor materno que está tão bem espelhado no teu texto. Essa mãe de que falas para mim e segundo a minha interpretação referem-se áquela pessoa que cada um de nós tem com referência e não apenas à nossa progenitora. Quntos de nós não fomos criados por uma avó por uma empregada? São essas as pessoas que nos alimentam tanto a nível físico, como emocional, afectivo, social, ... Quando pelas circunstâncias da vida, e sejam quais elas forem, nos separam destas pessoas que tanto nos dizem, de quem tanto precisamos, a quem tanto queremos dar, que relembramos com a bonita nostalgia dos tempos passados e que tanto gostaríamos de voltar a viver.

bem, vou terminar esta minha reflexão sobre este grande texto, pois poderia estar aqui a divagar horas e horas sem fim. Muitos parabéns! Simplesmente adorei o texto! Beijinho, nina =)

sexta-feira, março 17, 2006 10:35:00 da tarde  

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