segunda-feira, setembro 03, 2007

Pânico

Acordei naquela manhã e vi a minha mão esmagada. Como que desmanchada por dentro. Os dedos não se fechavam. A palma não se contraia. Apenas ali, na cama, jazia. Não doia. Assustei-me. Porque era feia. A minha mão esmagada. Que afinal até doia. Tanta era a dormência. E os meus olhos abriram-se mais. E mais bateu o meu coração. Talvez aquele tenha sido o momento em que a a minha alma foi abatida. Ficou tudo escuro por dentro. Ficou tudo iluminado por fora. E devido à luz de fora eu não vi a minha escuridão por dentro. Porque por fora a luz era tão forte que me cegava os meus olhos. Os de fora e os de dentro. E eu só pensava na minha mão esmagada. Que mesmo que não doesse estava dormente, e assim, dessa maneira estranha, doia. Tenho a mão esmagada. O que faço com a minha mão esmagada? A minha...mão esmagada...Que mal vejo. No pânico que me abriu os olhos e me fez bater mais o coração deixei de ver a mão esmagada. Só vejo o sangue esborratado. O sangue esborratado devido aos meus olhos cegos ou devido à minha mão esmagada? Os olhos cegos não podem esborratar sangue. Porque não vêm o sangue devido à luz que os cega. E também não vêm a escuridão de dentro. Então, como sei do sangue? Sinto-o. A ir. A voltar. A correr. A esborratar-se na cama. A sair. Vivo. Pulsando. Mas esborratando-se na cama. A culpa é da minha mão esmagada. Culpada da minha alma abatida, do meu coração acelerado e dos meus olhos mais abertos. A minha mão esmagada. Minha.

Dualitate

Espiral

Inspiração musical: Linda Martini - "Dá-me a tua melhor faca"

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