sexta-feira, maio 04, 2007

Caminho

A pista de patinagem perde-se de vista. Corro, não posso escorregar. Os saltos dos meus sapatos de salto alto mordem o gelo, ferindo todo o corpo daquela superfície gelada. O meu corpo geneticamente modificado suporta o frio desta nova planície. A minha mente mecanicamente subjugada não duvida que tem de correr. As minhas pernas não se cansam; não sinto os sapatos molhados; não gemo quando o gelo se vinga nos meus pés. Nem reparo nos salpicos vermelhos que ficam espalhados.
O meu cabelo negro, cuidadosamente penteado solta-se dos ganchos. O meu vestido feito de lantejoulas pretas e brilhantes permanece inalterável. A minha maquilhagem torna-se indistinta, os meus lábios azulam.
Não questiono o vento, nem o frio, nem mesmo a neve que cai, generosa.Só tenho de correr. Para um sítio. Não sei qual. Mas tenho que ir para lá. Por vontade de Alguêm. Ir, ir, ir. Sem olhar. Sem olhar. Sem olhar. Para a frente. Para a frente. Para a frente. Dura. Inquebrável. Estrela de gelo.

Espiral

Dualitate

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