Anual
Fujo do Verão. Fujo dos cadernos. Fujo das toalhas. Fujo dos artigos. Fujo até ao fundo de mim. Não sei se quero risos. Não sei se quero choros. Não quero deitar-me a pensar. Não quero levantar-me e correr. As minhas pernas cedem. Mas tenho que andar. A minha garganta grita. Mas eu calo-me. Os meus olhos ardem. E eu esqueço-me. O meu coração doí. E eu aceito.
O Outono passeia os dedos saudosamente pelas minhas linhas. As folhas lá fora caiem. Já passei por isso. Não sei se ultrapassei ou se estou mais fraca. Suspiro fundo, enrolo-me num cachecol e saio para a rua. Vozes marcantes cantam-me aos ouvidos que os sinais aparecem quando queremos vê-los. Com as mãos debéis afasto ventos. Com os pés desajeitados calcorreio calçadas. Tropeço. Mas chego onde sempre vou quando ando sem destino. Sento-me nesse banco mal pintado. O meu cachecol quer fugir. Não discuto. Não resmungo. Tiro-o. Tiro a camisola. Tiro as calças. Ato o cabelo. Enrolo uma ligadura ao pulso. Para distrair-vos do meu ponto mais fraco.
Mergulho nas águas geladas do Inverno. Amar com garra. Se magoar. Situar o meu centro de gravidade num ponto escondido. Rir e salpicar-me de lágrimas. As cervejas sabem melhor assim. Culpo sempre o contraste perceptivo. No fim, não julgo ninguém.
Saio da água com dificuldade. Cá fora faz calor. Aquele calor de Primavera que desapareceu. Pego no cachecol, enrolo-me. Talvez volte a divertir-me a escrever. Agora, vou descobrir novos caminhos para casa, enquando ainda estou molhada e assim o sol não me queima sem piedade.
Espiral
Dualitate
1 Comments:
Obrigada pelo comentário. :)
Espreitem sempre!
R.L.
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