quarta-feira, junho 08, 2005

Lembra-se...

São 4:51 da manhã..sem sono.Nada de anormal.Hoje não quer ficar às voltas na cama.Quer divagar.
Houve em tempos alguém diferente.Alguém mais completo.Hoje não.Sente a sua cabeça tonta, às voltas na estabilidade do seu físico.Ouve vozes, vozes agudas e estranhas.Ouve vozes, ao mesmo tempo que faz do silêncio a sua maneira de gritar.Pestaneja.Sente.Sente o que não há para sentir.A única e última coisa que resta, é a memória. São apenas uns poucos e alucinantes versos, umas poucas e duras palavras.Esse algúem não quer sentir.Mas sente.Imagina-se no escuro, com um mundo simples, onde reina a fantasia e a raínha é a brisa silenciosa que apaga todas as vozes e lembranças.Está nesse mundo.Quer sentir os seus pés tocarem o chão, para se tornar banal e rotineiro.Mas é elevado pelo silêncio.Lembra-se.Lembra-se de tudo.Sozinho, consegue ver.Lembra-se dos olhos, da cor, do brilho. Do cabelo, cheiroso e cuidado.Da pele, morena e as vezes tão translúcida.Lembra-se de escutar as suas palavras quando ouvia música.Lembra-se da sua presença, quando os corpos não se tocavam, quando os olhos não se cruzavam.Lembra-se de fazer sofrer, e deixar sofrer.Lembra-se da voz, em tom morno e quente, às vezes inaudível.Lembra-se das palavras, das falas, como num teatro de marionetas.Lembra-se do seu jeito, da ausência de nexo, do corpo quente que tornava a coordenação com a alma, um movimento apaixonante.Lembra o seu sorriso simples, mas encantador.Lembra-se de tocar.Lembra-se de sentir.Ouve gritos.Gemidos, até.Lembra-se do piscar de olhos, tentador.Expressivo.Lembra-se da dureza, da ternura, da bondade e do orgulho.Lembra-se da ausência de luta, que não era mais do que a própria luta.Lembra-se da criança que nascia, da jovem que lutava, da mulher que aconselhava. Lembra-se da sua junção de personagens no choro.Da pessoa que amava.Lembra-se da maneira como se enrolava no seu próprio corpo, fazendo como que uma concha impenetrável.Tinha a maré que a fazia abrir e levar até à areia. Não se esquece da maneira como regulava o seu ego, como fazia parecer o mundo vivo.Como tocava o chão.Vai continuar a lembrar.Isto.Mais!
Quer chorar, mas não consegue.Quer gritar, mas a raínha não deixa.Enquanto escrevo, há uma imagem presente na minha mente, o quarto de alguém.Um refúgio, pequeno, cheio, com pouca luz.Mesmo como eu gosto.
Os pés tocam agora no chão, mas o silêncio continua a ser a sua maneira de gritar.

Cavalo Branco

Dualitate

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

segunda-feira, agosto 29, 2005 6:12:00 da tarde  

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